O tempo, ah o tempo! Implacável, democrático, grandeza disciplinadora, curativo de todas as incompreensões humanas. Pois o tempo está passando, como sempre, mas parece ser cada vez mais rápido. Mas dessa vez, quem se aproxima com ele é a primavera. Com ela, a natureza nos mostra seu poder e sua grandeza.
Sri Prem Baba, um brasileiro, que dedicou sua vida às questões humanitárias e espirituais, escreveu um livro chamado “Propósito”. Nesta obra, o Mestre compara nossas vidas às de uma árvore, onde as raízes correspondem as nossas origens, nossos antepassados, que nos deram sustentação. O tronco representa os nossos valores, a nossa grandeza. Quanto mais enraizada a árvore, mais forte o tronco. Os galhos são nossos desdobramentos, nossas obras e, por fim, as folhas representam o impulso da vida e a eterna capacidade de renovação. Diz ainda, que quando agimos com amor, nossos dons e talentos dão origem a flores e frutos.
Interessante a comparação entre a vida humana e a árvore. As folhas, responsáveis pela purificação do nosso ar, são como “pingos” de vida, a brotar nos galhos de nossa existência. Muitas delas, inclusive, têm esse formato de gota. E nessa troca gasosa, nessa purificação constante, temos o elemento fundamental de nossa vida, o ar que respiramos. Assim, podemos dizer que, consciente ou inconscientemente, a todo instante, Deus se faz presente em nossa vida através da respiração. Sem o ar purificado das folhas, não resistimos e sucumbimos. Vitalidade e respiração, sempre de mãos dadas.
Mas já que estamos nos comparando às arvores e temos, diante de nós a beleza das estações, porque não fazermos uma revisão de nossos pensamentos e ações? Será que estamos agindo, enquanto seres humanos, como boas árvores? Como tratamos nossas raízes? Estamos empenhados em purificar o ar ou poluir? Estamos empenhados em trabalhar os nossos dons, virtudes e talentos para gerar bons frutos? E gerando frutos, quem a gente busca alimentar? Na mensagem do Papa Francisco, o rio não bebe de sua água, a árvore não come os próprios frutos, o sol não brilha para si mesmo e as flores não espalham sua fragrância pra si. Viver para os outros é uma regra da natureza.
Na grandeza do tempo e do espaço, o ar funciona como canal de distribuição da força divina, da animação, da vida. Somos seres políticos, interagimos com pessoas a todo o momento. E nessa interação, estamos polemizando ou polinizando? A polêmica é importante, nos faz refletir antes de agir e toda ação tem uma consequente reação. Mas será que nossas ações (política), a partir de questões polêmicas, estão eivadas dos ensinamentos da natureza? Estamos polinizando, usando o dom da comunicação e o poder da informação para transformar, para melhorar a vida em sociedade? Nossos atos são geradores de frutos?
Lembremos: a expressão divina é visível na natureza e pode ser visível em nós. Basta que não tenhamos vergonha de amar, de trabalhar com amor. Honrando nossos dons, virtudes e talentos, somos capazes de polinizar, espalhar o bem e frutificar. Bem-vinda a primavera! Ganhamos mais uma chance.