As mudanças no mundo pós-pandemia existirão e serão irreversíveis. A tecnologia está cada vez mais presente em nossas rotinas, mas algo que não mudará é a existência de pessoas necessitadas por comida, abrigo, roupas, educação, saúde, proteção e cultura, e as que querem apoia-las, minimizando a vulnerabilidade social, sem ganhar qualquer valor financeiro em troca.
Pelo Alto Uruguai gaúcho, há mais de 200 projetos que envolvem o trabalho não remunerado, realizado em benefício da sociedade. Iniciativas voltadas a música, cultura e ao bem estar social.
Força Voluntária
Uma das mais conhecidas é a Força Voluntária do Alto Uruguai (FVAU), criada há seis anos, onde atualmente conta com o apoio de 48 colaboradores. Adir Antônio de Lima é o atual presidente da entidade. Formado em Engenharia de Segurança, conta que entrou para a entidade para compartilhar seus conhecimentos, há três anos. “Eu sempre acreditei que podia ajudar a comunidade, quando conheci o projeto fiz a inscrição e me apaixonei ainda mais pelo voluntariado. Aqui consegui ver de perto uma realidade que muitas pessoas desconhecem em Erechim, onde muitas famílias passam fome nos bairros mais carentes da cidade”, explica.
Ele lembra que durante uma das ações que participou, distribuindo alimentos, o semblante de uma criança após receber uma marmita chamou sua atenção. “Estávamos entregando para adultos, mas algumas crianças se aproximaram e pediram alimentos, uma delas estava quase chorando, entregamos, e ali mesmo no meio da rua, ela abriu e começou a comer utilizando as mãos, devido a fome que sentia. Naquele momento eu e meu colega não conseguimos conter as lagrimas, por ver aquelas crianças implorando por comida. Uma realidade que pensávamos que era coisa de grandes centros, mas que estava mais perto do que imaginávamos. Isso me marcou muito”, ressalta Adir.
Bombeiros
As corporações de bombeiros voluntários também têm ampliado suas atuações na região. Uma das mais antigas é a do município de São Valentim. Edilberto Sonza, foi um dos fundadores do projeto, há oito anos. Dedicando mais de três décadas ao voluntariado, o empresário conta que recebeu o convite por ter uma experiência militar no exército brasileiro, durante a juventude. “Eu gosto muito do que eu faço. Sabíamos que não era algo fácil. De forma inicial, buscamos recursos e também treinamentos para quem se voluntariava. Hoje somos 30 voluntários”, destaca.
Sonza ainda expõem que o trabalho é uma missão que precisa ser realizada sempre, com o apoio de todos. “O bombeiro voluntário que atua em cidades menores, em que todos se conhecem, precisa ter uma preparação não só física, mas também mental. Isso porque além de atender muitas vezes conhecidos, precisa ajudar a dar notícias para as famílias. Isso é muito difícil, e só é possível ser realizado com a união dos colegas”, pontua.
Apaixonado pelo trabalho voluntário, ele conta a corporação o motiva a dedicar seus dias para ajudar os outros. “É algo que faço com muito amor, pretendendo nunca abandonar a atividade”, finaliza.
Catequistas
Os primeiros trabalhos realizados de forma voluntária no Brasil foram ligados as igrejas. Ainda hoje, essa é uma das formas que mais unem as comunidades. Só a igreja católica conta com mais de cinco mil voluntários, apenas na área de atuação da Diocese de Erexim. Pessoas que auxiliam na liturgia, ornamentação das igrejas, pastorais dos idosos e da juventude, além das catequistas.
Marilene Tomazelli Bez, desde a juventude, esteve presente no trabalho voluntário da igreja. Em 2013 assumiu a coordenação das catequistas da Igreja Nossa Senhora da Salete, no Bairro Três Vendas, em Erechim. “É um trabalho que vem do coração, realizado com muito amor. Sempre busquei desde que morava no interior participar das atividades voluntárias, hoje presto apoio às 65 catequistas e mais de 400 crianças, atividades que como ser humano, me fazem sempre buscar ser uma pessoa melhor”, salienta.
A coordenadora e catequista, destaca que o que mais lhe marca no trabalho voluntário, principalmente com jovens e crianças é a atitude de muitos que posteriormente também manifestam o desejo de voluntariar. “Hoje muitas das catequistas, foram alunas no passado. Algumas chegam e pedem para que possam participar das atividades da igreja. Este é um trabalho que faz brotar no coração uma sementinha de um sentimento de que, podemos ter um mundo melhor, não apenas com palavras, mas com ações”, finaliza.